• As dores da perfeição

    As dores da perfeição
    Pesquisa da FMUSP estuda as possibilidades de dores em violinistas e reafirma que pressão psicológica na profissão atinge saúde mental
    Por Natalie Majolo
    Ilustração por Natalie Majolo

    A nota perfeita pode sair do plano da imaterialidade, e soar aos ouvidos. Mas nada tão fácil de se alcançar: tornar-se um bom músico exige esforço e persistência. O trabalho árduo e constante em busca da perfeição gera dores mundanas, e não apenas metafísicas. A pesquisadora Fabíola Santos estudou a possibilidade dessas dores palpáveis em violinistas universitários da cidade de São Paulo. O resultado é a consequência da busca do som perfeito numa sociedade que não escuta.

    Há uma alta prevalência de dores muscoesqueléticas em músicos de cordas: cerca de 84% deles já sofreu do mal. Desses, cerca de 76% afirmam que as dores atrapalham em seu desempenho. Por causa das longas horas de treino e da prática excessiva, grande parte dessas dores são dos membros superiores. A maioria dos estudos na área postural dos músicos é feita de forma qualitativa. No Brasil, o trabalho de Fabíola é um dos primeiros a analisar qualitativa e quantitativamente ao investigar as dores e a possibilidade desses violinistas terem dor.

    Percorrendo as salas e camarins da Osesp (Osquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), Camera Antunes, USP, Unesp (Universidade Estadual Paulista), Faam (Faculdade de Artes Alcântara Machado) e Famoesp (Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo), a pesquisadora avaliou os violistas por meio de testes, desde dor, postura e qualidade de vida. Mas não sem antes conhecer a rotina cansativa desses artistas. Ensaios e treinos desde às 9 horas da manhã, com rápida pausa para o almoço, e, novamente, mais horas de estudo e de ensaios. Ao entardecer, se não tiverem concertos, os violinistas tendem a tocar em quartetos de cordas.

    Para entender melhor o que se passava nesse meio, a pesquisadora passou a estudar violino. Sentiu as dores da postura de rotação da cabeça, do braço elevado, da posição dos ombros. Mas os profissionais musicistas tendem a não buscar um profissional para melhorar esse quadro. “Eles não deixam de estudar para se tratar, previnir”, diz Fabiola.

    A realidade dos músicos de orquestras renomadas é dura: se procuram alguém para se tratar ou melhorar a postura, quer dizem que algo não vai bem. Problemas de ordem física e psicológica tendem a desmerecer o profissional de qualquer área. Na música, é visto como um indicativo de incapacidade de aguentar tamanha pressão. “Eles não adoecem, e não tem nenhum tipo de problema. Não basta ser bom, é preciso ser o melhor”.

    O peso da perfeição recai sobre a saúde desses profissionais, física, por não buscarem ajuda, e psicológica, por não demonstrarem “fraquezas” (ou humanidades?). Da parte que recai ao entendimento da pesquisadora, ela afirma: o músculo precisa relaxar. Precisamos descansar para continuar.

    Após analisar 38 violinistas com idades entre 18 e 41 anos, de forma individual, Fabíola fez as orientações necessárias a cada um, “mas eles nem sempre falavam o que realmente acontecia”, justamente devido à pressão psicológica. Músicos tendem a entrar em contato com instrumentos desde cedo. No Brasil, são poucos os pais que incentivam os filhos a conhecer mais sobre a arte da música. O peso da pressão familiar dos que incentivam a prática recai sobre os jovens desde cedo.

    É preciso praticar mais atividades físicas, cuidar do corpo e da mente. Diversos projetos educativos são realizados pela cidade de São Paulo. Esses projetos são práticas importantes para maior conhecimento da sociedade a respeito da realidade dos músicos, e também sobre a própria música. Um deles é o projeto Guri, que abre suas inscrições a cada meio ano.

    leia mais em: http://www.usp.br/aun/exibir?id=7888&ed=1388&f=68

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